Os Bakulu na Kimbanda Congo

Por Mameto Nganga Emekabande

Bakulu é o termo utilizado para se referir aos ancestrais dentro do Congo, ou mais especificamente, aos ancestrais que tiveram um papel importante na história. Dentro dessa ancestralidade, acreditamos que a morte não é apenas uma passagem ou uma libertação, mas sim uma metamorfose que transforma nosso corpo físico em corpo espiritual. Nessa jornada, buscamos atingir nossa maturidade espiritual, assim como atingimos nosso ápice e maturidade enquanto corpo físico enquanto estamos vivos.

Na Dikenga (o cosmograma congo), compreendemos que Nseke é um reflexo de mpemba, ou seja, o mundo físico é um reflexo do mundo espiritual, e vice-versa. Essa reflexão nos permite entender que nossos bakulus (ancestrais) estão sempre presentes em nossa realidade, mesmo que não fisicamente, e que essa proximidade é tão forte que frequentemente precisamos agradá-los para que estejam em paz, caso não estejamos honrando-os e lembrando-os de maneira adequada. Além disso, quando enfrentamos problemas que não conseguimos resolver sozinhos, buscamos a ajuda deles.

Honramos nossos bakulus para que nossas vidas sejam repletas de proteção, prosperidade, harmonia e equilíbrio. Somente honrando nossa linhagem ancestral podemos dar continuidade à nossa jornada de forma mais robusta.

Nos cultos dedicados aos Bakulu no Congo, os sacerdotes são chamados de Nganga Bakulu e são eles que gerenciam as oferendas ancestrais para a comunidade. Com a vinda dos congoleses para o Brasil durante o período da colonização, esse culto foi integrado à nossa macumba, quimbanda congo e ao candomblé de Angola.

Quando chegamos a essa terra, incorporamos o passado e o presente, e negar isso é virar as costas para nossa própria identidade.

"Naka mu mwana ko, mu ntekelo" é um ditado congo que significa "onde há morte, há sucessão".

Dentro da Kimbanda Congo, esse conceito se manifesta tanto nos ancestrais bruxos brasileiros (exu e pombagira) quanto nos ancestrais não bruxos. Nem todos os nossos familiares, mesmo que relevantes em nossa história, se envolveram o suficiente com a espiritualidade para se tornarem ancestrais feiticeiros.

Pensando nisso, apresento neste artigo um agrado que pode ser feito por qualquer pessoa, iniciada ou não em qualquer vertente congo ou angola, para agradar seus ancestrais de maneira simples. Essa prática foi adquirida ao longo do tempo com os mais velhos que compartilharam seu conhecimento conosco.

Você precisará de alguns itens:

Folha de Mamona (02 unidades)
Folhas de bambu
Folhas de Cana de açúcar 
Folhas de akokô
Batata doce (02 unidades)
Pilão de madeira
Dendê
Mel
Pimenta da Costa (9 para homem e 7 para mulher)
Gin

Modo de fazer:

Primeiramente, cozinhe todas as folhas e batatas juntas, exceto as folhas de mamona. Quando as batatas estiverem prontas para serem amassadas, retire as folhas e as batatas, reservando a água do cozimento para ser utilizada posteriormente em um banho ritualístico. Em seguida, amasse as ervas cozidas junto com as batatas, enquanto faz pedidos de harmonia, prosperidade, equilíbrio, saúde e bons caminhos. Quando a mistura se tornar uma pasta de ervas, divida-a em duas partes iguais e coloque cada parte dentro de uma folha de mamona.
Após isso, procure uma árvore grande e antiga para realizar a entrega, colocando as folhas de mamona aos pés dessa árvore. Asperja gin, pedindo licença aos espíritos que ali estão presentes, mascando algumas pimentas da costa (conforme descrito na lista), e faça seus pedidos para potencializar suas palavras. Em seguida, coloque seu pé esquerdo na mamona da esquerda e retire-o para simbolizar seus passos. Repita o mesmo procedimento com o pé direito na mamona da direita.

Após isso, regue as oferendas com mel para que seus pedidos sejam concedidos rapidamente, e depois com dendê para que o caminho seja tranquilo.

E vai fazer a seguinte reza:


Ankulu-kikulakaji…
muene nolo, ngana m’usoba.
Kana nogi kiekuma!
Kuala ki eme kiuisa en anti.
Ku landau ko…
Lenda…
Kala ie ngolo…
Kala kuingi…
Kandandu…
Kialungila…
Xikidisua, iekua die munzangala!
Ankulu-kikulukaji,
Mbongo mu kibiti,
Ukaala kiavangilu andi muzola.

Aweto!


Tradução:

Antigos anciãos…
donos da força, senhores do poder.
Não me faltem!
Para que eu possa ser sempre,
Ser assíduo…
Ser capaz…
Ser forte…
Ser bastante…
Ser bem-vindo…
Ser digno…
Ser confirmado, como seu filho!
Antigos anciãos,
Sementes do passado,
Seja feita sua vontade.

Assim seja!


Reza retirada do livro Jamberesu, autor Barcellos.

Fontes de pesquisa e crédito:
GABRIEL, 1978, P. 36
ALTUNA, 1974, p. 95


Para aprender mais com a Cabula Mulemba, inscreva-se aqui na nossa próxima mentoria coletiva.

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